Wednesday, January 02, 2008

PUBLICADO NA REVISTA CONTINENTE MULTICULTURAL

AMANHÃ, TALVEZ

Quando o escritor morrer publicaremos meia dúzia de biografias. Em uma delas irá constar que o escritor era ateu; na outra que era homossexual; em uma outra que fumava haxixe, violentava meninas, era comunista, torcia pelo Náutico, colecionava pêlos púbicos, e por aí afora. Quando o escritor morrer, criaremos em sua memória um prêmio de cobiçados 440 mil; batizaremos ruas com seu nome e o Patrimônio Histórico tombará sua antiga e modesta morada. Reeditaremos todos os seus livros. E descobriremos quatro obras inéditas. No primário, alunos decorarão seus versos; no colegial, a contragosto lerão seus livros. Quando o escritor morrer, seu nome constará em todos os exames vestibulares. O troféu que em vida negamos, agora lhe dedicaremos – in memoriam. A platéia se levantará e depois dos aplausos observará um minuto de silêncio. Quando o escritor morrer, tudo isto e muito mais faremos.