Saturday, July 29, 2006


HELENA GOLD, romance
(Geração Editorial, SP, 2003)
Uma mulher em fuga, tentando chegar à Macchu Picchu. Ex-assassina; ex-jornalista, ex-esposa, ex-maníaca-depressica – quem é Helena Gold?
* Selecionado para o Prêmio Portugal-Telecom 2004
O livro também traz versão para o teatro,
capa dura com folha de rosto em cartolina
colorida e belíssima arte de Victor Burton

Atriz ISA FERNANDES Interpretando HELENA GOLD



Lançamento de HELENA GOLD na Livraria Siciliano do Shopping Recife, 06/12/2003. Noite de sábado, casa cheia, isso sim foi leitura dramática. Parabéns Isa - quem não foi perdeu!

UM CERTO RUMOR DE ASAS
Romance (Editora Nova Prova, RS, Novembro de 2003)

“Numa trama que lembra Caio Fernando Abreu e Júlio Cortazar; de Recife a Berlim, passando pela Fria Dursseldorf e pela ensolarada Ilha de Malta, personagens se cruzam numa noite chuvosa habitada por garotos de programa, violinistas alemães, psicólogas em crise, médicos psicopatas, arquitetos, e a constante presença do Anjo da Morte. Construído com técnica narrativa moderna, o livro foi agraciado pela crítica com quatro prêmios nacionais:

*Prêmio Nacional de Romance Fundação Cultural da Bahia 2000;

*1º Prêmio Vereda Literária 2001, MG, (Menção Honrosa);

*Prêmio Redescoberta de Literatura/Revista Cult 2001 (Menção Honrosa);

*Prêmio Casa de Cultura Mário Quintana 2003” in www.livcultura.com.br

Cena de O CORAÇÃO É UM ÓRGÃO IRRESPONSÁVEL



Rogério Bravo, Pascoal Filizola e Cia em cena de O CORAÇÃO É UM ÓRGÃO IRRESPONSÁVEL. Não gostei do que o diretor fez com meu texto, mas os meninos bem que se esforçaram.

Abaixo: Entrada de O DOCE BLUES DA SALAMANDRA.
ABAIXO A PEÇA, NA ÍNTEGRA:
walthermoreira@yahoo.com.br

O CORAÇÃO É UM ORGÃO IRRESPONSÁVEL
(Comédia urbana em quatro quadros e um final apoteótico)

PRÓLOGO

Um céu azul com nuvens brancas, ao fundo. Na borda do palco um homem jovem trinta, sentado ao violoncelo. Usa terno preto de concertista. Executa uma peça clássica (Bach: Suíte nº 1 em Sol Maior BWM 1007), enquanto o público se instala na sala; dir-se-ia que em lugar da peça, o público assistiria a um concerto. Ao som das notas finais da música, entram os três personagens:

Uma MULHER madura (Escrito para Isa Fernandes); um HOMEM na casa dos trinta (Escrito para Diogo Vilela); uma MOÇA LOIRA (Escrito para Denise Fraga). Todos bem vestidos, de modo semelhante, terninhos clássicos, roupas nos tons preto, vermelho e branco. Cada um deles traz uma cadeira. Posicionam-se de frente à platéia. Sentam-se.

MULHER: Não há segurança alguma no amor.
HOMEM: É tudo um risco...
MOÇA: Às vezes um desespero...
MULHER: às vezes o melhor é não ficar com ninguém...
MOÇA: ... mas também a gente não quer ficar sozinha...
HOMEM: ... é uma equação que não fecha, igual a dívida externa brasileira!
MULHER: Essa necessidade do outro... E o pior é que as pessoas não vêm com bula. Por que as pessoas não vêm com uma bula, hein? como os remédios?...
HOMEM: ... bastava uma etiquetinha...
MOÇA: ... “cuidado”, poderia dizer a etiquetinha, “canalha à vista”...
MULHER: uma bula com prazo de validade...
HOMEM: Contra-indicações!... isso seria bom...
MOÇA: instruções de uso!...
HOMEM: ... não, eu não quero a fórmula secreta da Coca-cola não! Não precisa ser tanto... bastava um pouco, um pouco de transparência nas relações... um pouco de transparência já estava bom...
MULHER: ou um recall de homens... olha que avanço! Isso mesmo: em caso de defeito, de cafajestada maior, ou... se, de repente, as engrenagens não forem muito bem... sei lá, um problema na manivela, ou na chave-mestra... era só a gente levar e trocar. Isso seria o Paraíso.
HOMEM: ... transparência... insisto na transparência...
MOÇA: atestado de garantia...
MULHER: Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta! Todas as peças funcionando... principalmente aquela peça, seria uma beleza.
MOÇA: seria tão mais simples se todo mundo viesse com uma observação escrita na testa...
MULHER: “Veado!”
HOMEM: “Pilantra!”
MOÇA: “Mentiroso!”
MULHER: “Canalha!”
HOMEM: “Galinha!”
MULHER: Não precisava nem de Procom...
HOMEM: ... Serviço de troca...
MOÇA: ... bastava um aviso...

Mudança de luz. O Violoncelista começa a tocar O Mundo é um moinho, de Cartola.
Os três levantam-se e deixam o palco.

O Violoncelista toca por alguns momentos. Depois deixa o palco, o violoncelo permanece, encostado à cadeira.











Cena II (INFERNO)

Em lugar do céu, ao fundo, os azulejos de uma cozinha. A MULHER (de avental) fatia um salmão numa mesa, Cantarola “O mundo é um moinho”. Durante o monólogo, ela manipula os utensílios domésticos, brande a faca, serve-se de vinho, e prepara uma receita.

... Ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida... já anuncias a hora de partida... sem saber mesmo... o rumo que irás tomar... (Tempo. A mulher começa a fatiar uma cenoura.) Rodolfo... o nome dele era Rodolfo... era não, é: que o desgraçado não morreu... infelizmente! (Tempo. Levanta o rosto. Enxuga as mãos num guardanapo. Mira a platéia.) Meu ex-marido. Eu: “está gostando, amor, dessa saladinha?” Sabe aquele tipo que chamam as esposas de “Dona Encrenca”? o tipo que nunca está satisfeito, que não larga o controle da televisão? Futebol de manhã, Futebol de tarde, e ... Futebol de noite? E na madrugada: mesa redonda sobre... futebol, escuta aqui: se os homens gostam tanto de mulher e de futebol, como dizem, por que o futebol feminino não é sucesso, hein?
(Tempo.)

(Ajeitando o cabelo:) Depois de comer umas duas mil caixas de chocolate, depois de uma dieta do cacete, duas lipoaspiração e três mil carteiras de cigarros depois, percebi que não era bom... Pedi o divórcio. (Tempo. Pega a faca, fatia cebola. Segue com a faca até a borda do palco:) A diferença é pouca: quando a gente está namorando é um tal de “meu bem pra cá, meu bem pra lá”, quando tudo acaba é um tal de “meus bens pra cá, meus bens pra lá!”. Depois, dá nisso: tudo reduzido a quem vai ficar com a casa, quem vai ficar com o carro, quem vai ficar as aquarelas do Emílio Santiago... E lá se vão quinze anos de nossas vidas... Às vezes me dá uma raiva de mim, do meu excesso de educação... porque, porque o que eu devia ter tido era a coragem para gritar: “Vai tomar no cu, Rodolfo!” (Em tom de confidência:) Ele ficaria chocadíssimo... (Tempo.) Ai, meu Deus, que burra que eu fui de não ter colocado nele um par de chifres com aquele cara que veio reformar o banheiro! (Gesto:) Duas semanas de reforma, duas! (Tempo.) Um negrão lindo, enorme! Olho na argamassa, olho na minha bunda... Que besta que eu fui... (Tempo.) Seria melhor vingança do que pegar o Rodolfo dormindo e (gesto) cortar o braúlio dele, como fez aquela mulher lá, a Carolyne, de Miami... (Risos:) ... o mais incrível é que o safado do americano, o ex-marido da Carolyne lá de Miami, conseguiu reimplantar o dito cujo e acabou virando ator de filme pornô. O cara se chama Ted Dick e os DVDs estão aí em qualquer locadora para quem quiser ver... Só nos Estados Unidos: Um cara depois de capado virar ator de filme pornô... Não, eu não precisva ter capado o Rodolfo, bastava o negrão... (Confidente:) Aliás, se homem tivesse juízo, devia ter medo... aquela história: ele lá dormindo... a gente na cozinha com um monte de faca, com raiva, fatiando a comida... vai que de repente o diabo atenta... Se eu fosse homem, andaria na linha.

(Tempo. Noutro tom:)

Eu estava com uma amiga quando encontrei o Alfonso pela primeira vez: “Ele é tão bonito, não é?”, eu disse. “Mas pobre!”, ela comentou. “Ah isso não é tão importante assim...”, eu disse. “Desculpe, mas é sim, meu bem. Homem bonito e pobre é a mesma coisa que homem com um pinto grande... mas mole. Homem bonito só serve para ser amante. Não serve pra marido. Se você se casar com ele, a única certeza que vai ter é que as mulheres vão constantemente dar em cima dele. Ou seja: um inferno. A única maneira de garantir um futuro tranqüilo é se casando com um feio rico”, disse ela. Essa minha amiga é muito inteligente: deve ser por isso que está sozinha até hoje! “Olha só pras unhas dele, um nojo! Ele deve roer as unhas!”, ela disse. “Então roer as unhas deve estar fazendo um bem enorme pra ela... Nossa, que homem!” E me casei com o Alfonso bonito, pobre, e unhas roídas.

... Mas o pior mesmo, o estranho, é que às vezes a gente chega a sentir falta de um traste como o Rodolfo... E o sexo (curva-se) era uma booooooooooooosta. (Mão no peito:) E eu já fui apresentada ao orgasmo sim, antes do Rodolfo... e mais de uma vez! Uma escritora gaúcha ficou rica porque escreveu um livro chamado Perdas e Ganhos... diz que a gente ganha muito com a velhice: ganha experiência... de fato, agora eu tenho bastante experiência... mas meu Deus: o que é que eu vou fazer com isto!? (Tempo. Sem muita convicção:) Minha vida não tem sexo, mas é boa, é muito boa... tem o café filosófico da livraria Cultura, semana passada mesmo eu assisti a uma palestra sobre o Concubinato na Grécia Pré-Socrática... isso é importante; também faço dança de salão na companhia do Jaime Arouxa, pena que só vai mulher... quer dizer, tem homem também... uns veados! Vamos ser honesta... (Pensativa) ...Por que veado tem que aprender dança de salão, cozinha francesa, vinhos, francês, inglês e italiano? Será que já não bastava tirar os homens da gente? Porra, que concorrência desleal!

(Tempo.Olha os legumes na mesa.)

Eu era uma daquelas crianças que detestam brócolis, couve, pepino, tudo que fosse verde... agora que tenho experiência sei que se tivesse comido os vegetais naquela época, podia estar com uma pele de pêssego, ah, se eu soubesse que seria assim aposto que seria capaz de comer um caminhão de alfafa!

Voltaire já dizia que o injusto na vida é que quando temos experiência para aproveita-la, a vida já passou... Então é melhor fica sozinha do que mal acampanhada. Mas espere... Tem uma coisa estranha nisso... Quando algo dói e a dor passa a pessoa fica feliz ou pelo menos aliviada... mas... quando uma relação, que era ruim, acaba, por que isso não acontece? Mesmo quando era ruim, dificilmente a gente fica feliz... leva um certo tempo. Eu tenho uma amiga que vive com um traste há vinte e cinco anos e até hoje se desdobra em cuidados (grita para as coxias): “meu bem, cuidado com a chuva”, “meu bem, quer um copinho de leite com mel? Olha este resfriado”... (Pára, incrédula.)

Ai que raiva de nunca ter tido coragem de mandar o Rodolfo tomar no cu... fui estudar em colégio de freira: deu nisso...

Alguém aí precisa escrever O Livro do Não... ou O Livro do Pé na Bunda... Um manual para nos ajudar na hora de terminar com tudo. Para um tipo como o Rodolfo não ficar chocadíssimo quando a gente mandar embora. Nesse manual, poderia ter um capítulo sobre o “foda-se”.
Do Clássico (cerimoniosa): Olhe aqui, meu querido Rodolfo, foda-se!...
Elegante (sibilante): Foda-se...
Espirituoso: Ah, vá à merda. Foda-se, Rodolfo!...
Chique, tipo Marlene Dietrich: Foda-se...
(Tempo.) Tudo bem, estou tranquila agora... (Vai para trás da mesa e fatia, com raiva, uma cenoura. Larga a faca.)

(Tempo. Mudança de tom.)
Receita para segurar um homem: prometa muito, cumpra pouco e nunca, nunca, diga eu te amo... os homens gostam da dificuldade, senão não subiriam o pico Everest! Gente, eles passam mais de cinco dias pendurados. Vê se alguma mulher vai estar interessada em deixar o conforto de sua casinha para ficar (gesto) pendurada por uma mão só, comendo, dormindo, fazendo tudo pendurada, cagando no abismo... (Tempo.)

Receita para entrar no inferno: Confie nele: em cada uma das besteirinhas que ele sopra no teu ouvido quando estão na hora do bem bom... acredite que ele nunca te trairá... e dê no primeiro encontro! Olha, isso de dar no primeiro encontro é que acaba com a mulher de hoje. Isso desvaloriza a mulher de um jeito! Antigamente não, antigamente, meu filho, o cara ganhava o dia quando a mulher mostrava o pé... como no livro, “A pata da gazela”... (Tempo.) Esse negócio de sair por aí mostrando tudo, isso é um negócio contra a mulher... Na praia, por exemplo, vá à praia e fique olhando: homem não presta mais atenção em mulher não, eles só querem saber do voleibol. (Chocada:) É tanta bunda de fora, meu Deus... O excesso enjoa, será que ninguém percebeu isso não? Imagine o cara, o ginecologista, que se levanta e vai trabalhar, o cara fica das oito da manhã às seis examinando, examinando, vagina sai, vagina entra, vagina fecha, vagina abre... uma vagina vai ser a última coisa que esse cara vai querer ver quando chegar em casa!
(Tempo. Vai um aparelho de som e o liga: Sarah Vauganh canta: “setember song” Mudança de luz. Toda feliz:) Ontem conheci um cara, um cara diferente... numa delicatessem, estávamos na seção de frios... mas me subiu um calor! ... Um cara quente numa sessão de frios, engraçado isso, enfim: estávamos procurando salmão e só havia uma caixa de meio quilo... onde você encontrou este? Ele me perguntou. Acho que não tem mais, eu disse. Daí ele ficou com aquela cara de bobo... a boca aberta, uma expressão distraída... a gente podia dividir, eu disse, na, não, não, falou ele, gaguejando um pouco, faço questão, eu disse, e assim fomos discutindo até a caixa registradora... eu disse que estava tudo bem porque morava sozinha e ia fazer salmão com molho de peito de frango defumado, entendeu? Tem o frango também... deve render bastante, ele disse, é, rende muito, eu comentei... Eu também moro sozinho, ele disse. Ah, bom... eu disse. ... da caixa até o estacionamento dei a receita de família a ele: 1k de salmão rosa, 2 colheres de sopa de azeite de oliva, 115 gramas de peito de frango defumado, uma cebola em cubos, um talo de aipo em cubos, duas cenouras descascadas em cubos, duas xícaras de farinha de rosca... (Tempo. Retira o avental.)

(Toda melosa:) Devia ter trinta anos, ele... enquanto eu tenho uns “quarenta e poucos”... é... eu passei uns seis anos fazendo quarenta anos. (Vai até a borda do palco e abre o roupão. Veste um maiô, por baixo.) Mas acho que não estou tão ruim assim... (Ao contra-regras): “Dá para baixar esta luz? Obrigada... É, acho que com uma penumbra e se o cara tomar umas duas garrafas de vinho antes... o segredo é a garrafa de vinho antes, duas garrafas de vinho, viu gente... três não!, porque na terceira o cara broxa, mas com duas garrafas de vinho na cabeça, para o homem, qualquer uma pode virar a Juliana Paes... Com o vinho acho que eu passo... A gravidade faz essa coisa perversa com a gente: manda tudo pra baixo. Eu tenho uma amiga que ri assim (põe as mãos no rosto): segurando a pele do rosto, para não criar rugas: ha ha ha ha ha! (Tempo.) Coitada...

(Voltando ao tom narrativo:)
Daí a gente ficou conversando no estacionamento... (Tempo.) Ele me disse que era publicitário, mas que o negócio da publicidade não anda muito bem... Pelo carro dele eu vi que ele tinha razão... Tinha um violoncelo no carro dele. Puxa, um violoncelo, eu disse. Ele me falou que estava estudando música no conservatório...

(Em confidência, ao público:) Bonito, publicitário e ainda toca?! Esse homem não existe! (Retoma o tom narrativo:) Eu disse que era psicóloga, fazia terapia familiar, arranjava a vida dos casais... mas de noite qualquer um me pega em casa... Quer dizer: Eu só trabalho de dia, eu disse. Quando as coisas não andam bem, eu acho cozinhar um santo remédio, eu disse. Ele riu, ele disse que preferia comer... Pois eu adoro cozinhar, eu disse... mas também adoro homem que adora comer... a minha comida. Pois é... ele disse. Eu fiquei com medo de estar com cara de quem está pensando “me pega, moço, nem que seja por piedade”... (Tempo.) A cara da Mia Ferrows no filme A Rosa Púrpura do Cairo... Vocês se lembram? (Tempo.) Mesmo assim, eu disse: Você conhece a rua Corredor do Bispo? Então, eu moro ali pertinho do Hospital do Exército... número 26... passa lá em casa... a gente troca umas receitas... (Tempo.) Ah, eu vou passar mesmo, ele disse... Eu me senti meio ridícula, mas o amor é ridículo por natureza. (Tempo.) O Fernando Pessoa tinha razão... Depois ele disse tchau e eu disse tchau... Daí ele disse, “a receita, você está esquecendo de me dar a receita...”. Eu senti firmeza quando ele me pediu a receita. Daí, eu mais que rapidamente arranquei uma página da agenda e anotei: filés de salmão, três xícaras de vinho tinto, três colheres de sopa de manteiga, três colheres de sopa de farinha de trigo, meia xícara de creme de leite com soro, peito de frango defumado picado; salsinha, majerona, manjericão fresco e alho, tudo picadinho e sal a gosto. Lave e seque os filés de salmão. Despeje duas xícaras de vinho numa panela larga. Deixe ferver, reduza o fogo. Escalde o salmão no vinho por uns 10 a 12 minutos. Numa frigideira derreta a manteiga, doure o alho, acrescente a farinha e cozinhe por 2 minutos em fogo baixo. Acrescente o creme de leite, uma xícara de vinho tinto, o manjericão, e o frango. Deixe engrossar. Coloque o salmão no prato, sirva com o molho e salpique o manjericão e a manjerona.
(Tempo.)
Ele agradeceu... Eu disse tchau... passa lá em casa.
(Tempo. Volta para atrás da mesa. Recolhe os utensílios. Serve-se de vinho.)

Se ele não vier, tudo bem, vou comer meu salmão, tomar meu vinho... boto um disco... vai ficar tudo bem. (Tempo. Billie Holiday começa a cantar “You dont know what loves is”.)

Esse necessidade de final feliz, essa necessidade de Happy End é que é uma tristeza... (repete:) é... essa necessidade do Happy End é que é uma tristeza... o Happy End é uma invenção americana... coisa de Hollywood... começou lá pelos anos 40...depois da segunda guerra, estava aquele clima de baixo astral depois da guerra aí os produtores de Hollywood disseram vamos levar o povo ao cinema! E tome musical, e tome histórias de amor com final feliz... tinha final feliz até em filme de terror! Imaginem isso... essa necessidade de Happy End é que é uma tristeza... você passa um, dois, cinco anos com um homem... acaba, vem alguém é diz que não deu certo... Mas deu certo por um dia, uma semana... um ano... Essa necessidade de Happy End é que é uma tristeza...
(Tempo.)

É... ele disse que viria. (Tempo. Olha o relógio, senta-se.)
Puxa vida, já é difícil a gente atravessar a infância sabendo que (conta nos dedos:) o Coelhinho da Páscoa não existe... o Papai Noel não existe... nem existe a fada do dente... depois chega-se à idade adulta e se percebe: como homem mente! Gente... (pega a fruta:) até o tomate não é o que parece, gente: o tomate não é legume não, o tomate é uma fruta!

(Tempo. Acende um cigarro. Num tom sereno:)
30 minutos para preparar uma receita... 15 anos para um casamento... tudo tem um tempo; quanto tempo dura essa necessidade que a gente tem de amar? em quanto tempo isso passa? Quando é que isso passa? Ah. O nome dele era Pedro. Pedro Fontana. Era não, é. Que ele ainda está vivo... felizmente.

A luz fecha. Um violoncelo solo executa “You dont know what loves is.”







Cena III (PURGATÓRIO)

Em lugar dos azulejos de cozinha, janela com a cidade ao fundo. Um escritório. Sala de reuniões, com quadro demonstrativo, tela para projetor de slide, etc. Toca o tema da peça, no violoncelo: 1 min. Entra o HOMEM: um jovem publicitário. O terno está em cima da cadeira. O homem usa camisa branca de manga curta e uma gravata colorida. Um dos braços está engessado.

O homem, de modo triste, assobia “O mundo é um moinho”. Pára. Abre a pasta, começa a recolher coisas em cima da mesa, abre gavetas; dir-se-ia que é seu último dia de trabalho, que foi demitido. (Tempo.) Pega um porta-retrato.

Pedro... Pedro Fontana, o nome do cara...

(Tempo. Retira a foto do porta-retrato, pára um tempo, indeciso, termina por rasgar a foto, com gestos sossegados; guarda o porta-retrato na maleta. Senta-se na cadeira-giratória, dá algumas voltas. Vai até a borda do palco.)

Você sabe que Deus existe quando, desempregado, encontra o anuncio no jornal: “empresa de grande porte oferece duas vagas para publicitário jovem, até 30 anos, 2 anos de experiência, inglês fluente, boa aparência, salário compatível com a função” etc e etc. Você diz, que ótimo! Porque você tem tudo isso que pedem e mais alguma coisa...então você envia o currículo à empresa e dez dias depois, recebe um telegrama para a entrevista. Se arruma, capricha na barba, bota o melhor perfume... que deve ser discreto!, não se pode exagerar no perfume numa hora dessas... e lá se vai você (gesto) cheio de esperança... (Tempo.)

(Toca a ponta da gravata.): ... gravata de bichinho... ou você tem ou não é um publicitário... esta foi presente, amigo-secreto, aquela coisa... foi o Pedro que me deu... (Começa a retirar a gravata, coloca-a no lixo.)

(Retomando o tom narrativo:)
Daí, chegando no tal lugar, assim que você chega na sala de recursos humanos da empresa você encontra, pelo menos, uns 40 sujeitos! Isso que dizer que você será o último a ser entrevistado, ou seja: você está fodido! Você começa a ficar desanimado... mais aí você vê o cara... (Ouve-se o bater rítmico de um coração.) ... você senta ao lado dele e ele lhe sorri. Nessa hora você passa a acreditar que Deus não só existe como ama você! Pronto: num segundo, você não quer mais sair daquela sala apertada! Seis horas depois foi todo mundo embora... restaram você e o cara... Ele é o penúltimo a ser chamado... você diz “boa sorte”; ele diz “pra você também”... você se sai ótimo na entrevista de modo que se um anjo descer do céu e lhe perguntar se você quer o cara ou o emprego, você coça a cabeça e pergunta: mas não dá pra ser os dois?! (Tempo.) Mas o melhor está para acontecer: ao sair, você dá com ele no estacionamento... o carro não quer pegar... (vibrando:) yes! ... coitado, o carro dele é um lixo... “Eu te dou uma carona”, você diz... “mas só se você me deixar pagar uma cerveja, antes!”, ele diz. Skol ou Bhrama?, você pergunta... (vibrando outra vez:) Uau... (Tempo. Miles Davis começa a tocar “Nature Boy”. O ator senta-se na cadeira, de frente para o público, como se numa mesa de bar).

Bonito, 32 anos, publicitário... músico nas horas vagas... 5 anos de conservatório! Violoncelo... muita esmola, né não? Espere aí... um homem que curte Nina Simone... Billie Holiday, jazz… (De novo o bater de um coração.) Tudo ótimo. Fica faltando só duas coisas: o cara ser gay e gostar de você. Você fica amigo do cara ali, na hora. Diálogo você já tem! Já é um começo... Agora: saber se o cara é gay já é outra coisa... Mas calma, há técnicas para isso. Pista número um: Você pode perguntar quantas vezes o cara malha durante a semana: um pouco de esporte é bom, mas se o cara tem fixação pelo corpo, esse negócio de malhar todo dia? o cara é veado - mesmo que não saiba! (Tempo) Pista número dois: Você tem que perguntar ao cara: ‘Coca-cola ou Guaraná?’ Ah, isso pouca gente sabe, só quem é do ramo entende (frisa): do ramo da publicidade, hein gente, não veadagem; é que quando foram inventar a garrafa da Coca-cola, pensaram num corpo de mulher (vai ao expositor e mostra as silhuetas das garrafas): é por isso que a garrafa tem aquele formato, de corpo de mulher, e mulher daqueles bem peitudas, propaganda subliminar! (Toma ares professorais:) Você vê a garrafa de Coca-cola, mas seu subconsciente, taram!, vê a figura de uma mulher gostosona... e então a agarra... não é a toa que a Coca cresceu tanto! ... já o nosso Guaraná, foi feito para se assemelhar a um homem... não tem a cinturinha da Coca, e aqui em cima o peito é todo estofado... Pista número três: (Off: Toca um celular.) Isso... o toque do celular... tudo bem que o cara seja criativo, ou tenha espírito esportivo, mas celular tocando “o lago dos cisnes”?... tam-tam-ram,ram-ram, pam... ram-raram-ra-ram..” ou o tema de Love store “Pam-pam-pam-pam, pam-pam-pam...”. (Tempo) Pista número quatro: filmes prediletos... Fique alerta se o cara disser que assistiu ao Titanic, e saia correndo se ele disser que gostou! (Tempo.) Fique alerta se o cara vier com aquela história de que gosta de Fellini... que o flime predileto do Fillini é “La Neve Vá”, porra, isso é lá título de filme de homem! (Gesto:) “La neve vá...” Também não vale se o cara é daqueles que viu Rambo I, Rambo II, Rambo III... e torce para que façam um Rambo IV! (Tempo.) Pista número cinco: Um cara que mora com a mãe. Fuja desses! Conheci um que toda vez que tínhamos que sair ele inventava para a mãe que estava indo a um churrasco. A mãe dizia, mas meu filho, churrasco às dez horas da noite??? Só se for na casa do Drácula! (Tempo.) Um dia a velha se injuriou comigo: “Por que o senhor não pára de ficar convidando meu filho para um churrasco atrás do outro?” Eu respondi: Por que seu filho, minha senhora, é que é a carne! (Tempo.) Pista número seis: o perfume! o cara só anda perfumado... parece vendedora do Boticário... (Tempo.) Por que, meu Deus, veado e puta têm que andar tão perfumados?!

Pedro... Pedro Fontana. Durante a cerveja eu perguntei se ele praticava algum tipo de esporte. Porque, de repente, vai que ele é um daqueles caras do Jiu-jitsu, daqueles que têm suco de açaí no lugar do cérebro! Melhor então nem chegar perto... Ele disse que corria na praia, às vezes, mas que tinha feito cama elástica na Faculdade – Hã? Meu coração deu um pulo: porra, cama elástica! Cama elástica só perde mesmo pro balé!

(Mão no peito:) Eu tenho o meu gaysômetro. E juro que nessa hora ele disparou.

Passam semanas... (A música soa alta durante dez segundos.) O cara vai ficando teu amigo... (Tempo.) Não que um amigo de verdade, só amizade pura, não seja bom... o problema... (estala os dedos, tentando encontrar a palavra certa) ... o problema é que amigo não... agarra!

(Tempo.) Daí, um belo dia, o cara pergunta: “vai fazer o quê neste fim de semana? Passa lá em casa, pra gente tomar uma...” Nessa hora é bom dizer (displicente:), “vou ver se vai dar...” nunca diga “já estou nessa”... não... deixa um pouco de incerteza no ar... nem que seja por vingança, pelo desgraçado ter deixado você esse tempo todo no Purgatório!...

O grande dia chega: (põe uns óculos escuros) você vai até a casa do sujeito... O cara está praticando jardinagem... sem camisa, todo suado lá no meio das bromélias... (Tira a camisa, ouve-se o bater de um coração. Acende um cigarro, que passará a fumar, meio nervoso, a partir daqui); “olha desculpa que eu estou fedendo”, diz ele... “tudo bem”, você diz, você não está fedendo, você só está suado... e homem suado tem mais valor de mercado... o cara ri... “vem aqui”, diz ele... “vem aqui, me abraça por trás”... o quê?! (O bater de coração soa mais alto. O ator tira os óculos escuros). Naquele momento eu tive a tensão do cara que tem que cortar o fio da bomba: o fio vermelho ou o verde? O fio vermelho ou o verde? E a bomba tic-tac tic-tac tic-tac. (Tempo.) Você vai... (Ao público, encolher de ombros:) o que você pode fazer? Você abraça o cara...

Assim está bom?
“Chega mais perto”..., ele diz.
Assim?, você pergunta.
“Ótimo!”, ele diz.
E bam! (O ator se atira ao chão. Quase escuridão brusca e absoluta. Voz desfalecida:) ... o cara te dar um golpe de judô... uma porra de um golpe de judô! Judô... o cara só queria te mostrar um golpe de judô...

O ator está deitado, sopra o cigarro. Uma luz azul o enfoca. Ouve-se as notas finais de “You don’t know what loves is” na voz de John Martyn.

PEDRO(off): Te machuquei? Cara, desculpe... me desculpe, porra, quebrou alguma coisa?... levanta daí... não, melhor não se mexer! Está doendo alguma coisa? não se machucou não, não foi? Porra, me desculpe, fica aí que vou buscar gelo...
ATOR (off) Judô, judô, ju dor…dor... dor...

Ator no palco: Então você sabe: se Deus existe... Ele está brigado com você.

O ator deixa o palco, mancando.










Cena IV (PARAÍSO)

Toca a música tema do espetáculo no violoncelo solo: 1 minuto. Ao fundo, azulejos de banheiro. Uma banheira. Entra a MOÇA: está envolta numa toalha azul, os cabelos presos numa touca. Nas mãos, um escovão e sais de banho. Durante a cena, entra na banheira, lixa o calcanhar, etc. Do lado extremo do palco, de jaleco e estestoscópio, seu ex-namorado, um médico jovem.

O telefone toca. A moça o atende.

Ela: (contrafeita): Merda!... alô?
Ele: Alô, Priscila? por que você não retorna as minhas ligações?
Ela: Foi bom você ter telefonado agora porque eu quero te dizer uma coisa... eu quero dizer que acabou, Michel.
Ele: (indignado) Priscila, você está acabando comigo pelo telefone!?
Ela: ... Desculpe... Eu ia te mandar um e-mail.
Ele: Pois eu quero que você venha aqui e repita que não me quer mais, na minha cara.
Ela: Mas por quê? Eu não já estou dizendo isso agora? Que diferença vai fazer eu gastar gasolina para ir aí?
Ele: Porque... porque... porque é muito fácil mentir por telefone!
Ela: Michel...
Ele: Espera aí, não desliga, não desliga que essa conversa me deu vontade de mijar. Você sabe que a minha bexiga fica sensível quando estou nervoso.
Ela: Escuta, Michel, preciso desligar...
Ele: É só um minutinho, amor!
Ela: Até a boneca Barbie tem uma bexiga maior que a sua!
Ele: Pronto: Voltei!
Ela: Olha, Michel, não tem nada a ver com você, tirando a bexiga frouxa você é um homem do caralho...
Ele: Sei.
Ela: Sério. No duro. O problema é comigo, eu nunca sei como lidar com as pessoas. A começar por minha mãe, minha relação com as pessoas sempre foi complicada.
Ele: Mas sua mãe é maravilhosa. É a sogra que todo genro pediu a Deus!
Ela: Minha mãe vivia tentando me botar pra fora, Michel!
Ele: Mas isso, amor, acontece até na natureza, o tempo. Depois de um tempo, até a mamãe águia expulsa o filhote do ninho, é para ele aprender a voar, desmamar, está entendendo, a sua mãe estava só querendo que você amadurecesse!
Ela: Acontece, Michel, que quando ela vivia tentando me expulsar eu ainda estava na barria dela, porra! (Tempo.) Olha, desculpa, vou ter que desligar...
Ele: Não, não Jéssica, espera, está me dando uma dor, não desliga, amor, qualquer r coisa menos isso!
Ela: Olha, Michel, pensa bem, a gente só faz brigar o tempo todo, seja verdadeiro com você mesmo...
Ele: Verdadeiro? Quem é você pra falar em verdadeiro? Não há nada verdadeiro em você, Priscila, até teus peitos são falsos!
Ela: Michel!
Ele: Desculpa, desculpa, amor, é que estou alterado...
Ela: Também isto está doendo em mim, Michel...
Ele: Você não sabe o que é sentir dor, meu bem: eu sim sei o que é sentir dor! Eu já prendi o saco do zíper da calça, Priscila. Isso sim é sentir dor! Olha, vamos conversar...
Ela: Desculpa, Michel, mas vou ter que te perguntar uma coisa...
Ele: Ih... lá vem!
Ela: Mas só se você me prometer não ficar chateado...
Ele: Manda!
Ela: Não, Michel, antes me promete...
Ele: Prometo...
Ela: Michel... você é veado?
Ele: O quê?! Porra, Jéssica!
Ela: Desculpa, amor, mas é que você é muito sensível, Michel... eu preciso de um cara que seja mais... homem, entendeu?
Ele: Sabe o que você é? Você é uma vaca, Jéssica! É isso que você é!
Ela: Está vendo só? É disso que eu estou falando. Seja adulto, Michel!
Ele: Não seja adúltera, Jéssica!... Olha, amor, desculpa, a gente não vai chegar a lugar nenhum indo nessa direção...
Ela: Que ereção, Michel? Faz tempo que você não –
Ele: Direção, eu disse direção! Está vendo que não dá certo falar por telefone?
Ela: Olha, Michel, ainda bem que teu pinto não é do tamanho do teu QI, porque senão querido sua situação não seria nada boa.
Ele: Então, amor, nossa transa já foi boa...
Ela: Há muito tempo, querido...
É porque ultimamente você tem andado fria comigo, Jéssica...
Ela: Estou fria sim, Michel, fria igual um cadáver! Afinal você me matou!
Ele: E quanto a mim? O que você vai fazer se eu morrer?
Ela:Comprar um vestido preto. Mas isso não vai acontecer, Michel, vai ser mais fácil o fogo do inferno se apagar.
Ele: Quem é ele?
Ela: Não tem ninguém querido, ninguém...
Ele: Mentira! Você está mentindo! Você é uma macaca safada: só larga um cipó quando pega outro!
Ela: Não, não tem ninguém... A bateria do celular está acabando... alô (finge que o telefone morre).
Ele: Não desliga, Priscila, Priscila?! Sua vaca! Eu devia ter comido sua bunda quando tive chance, só assim você me respeitava!


(Barulho de telefone interrompido. Tempo. Mudança de luz.)

PRISCILA (Ao público):
Ele é meio bobo mas tem razão... eu conheci um outro cara... Pedro... Pedro Fontana, conheci semana passada...

(Tempo. Nina simone começa a cantar “I love you Porgy”.)

Conheci no geladinho... eu nunca pensei que não saber dirigir pudesse me ser útil nesta vida! porque eu não dirijo, fui até numa psicóloga mas não teve jeito... ele disse que o carro dele estava com problemas... (Tempo.) Eu não sei nem como o assunto começou, mas num instante a gente estava falando sobre beleza, beleza física... Ele disse que beleza era um conjunto, tudo depende de várias coisas... beleza depende do modo como a gente fala, de nossa inteligência, não é só uma questão de corpo... em pouco tempo eu estava boba, não é todo dia que a gente encontra um homem bonito, com esse nível de compreensão... eu pensei “vamos sua besta, faça alguma coisa!” porque nessas conversas não é bom deixar o silêncio demorar porque de repente o cara desce, ou o assunto acaba.. “Calypso!!”, gritei, “Você gosta da banda Calypso?” Ele disse que nem conhecia. (Tempo.)

Ah, eu disse... pronto: foi o fim da picada... mas aí, antes de descer, ele me deu seu cartãozinho... e no mesmo dia eu liguei... aí, conversa vai, conversa vem... a gente outro dia tomou um café no shopping. Eu marquei na livraria porque não podia fazer feio... por outro lado, também gosto de ler, e só leio coisa fina: de Paulo Coelho pra cima! (Tempo. Elevada:) Estava tocando música clássica, eu aproveitei e disse que gostava, principalmente daquela pam-ram-ram-ram-pam...; não tem aquela assim? sei, ele disse, qual é o compositor, ele perguntou, ah, eu não lembro, eu disse, é uma que tem um violino e que faz assim “lá, lá, la ríii”. Eu gosto mesmo é de jazz, ele disse, Nina Simone, Sarah Vaugah, Billie Holiday... Eu toco violoncelo, ele disse. Também adoro música orquestrada!, eu disse. Ele teve que ir embora logo por causa do trabalho. Quando ele foi embora eu entrei numa loja de disco e fui procurar as cantoras dele: estou escutando Nina Simone faz uma semana! (A música aumenta de volume e chega ao fim. Tempo.)

Ele é... Culto, fino... mas não é do tipo muito sério. Pra falar a verdade, fiquei com trauma de homem sério por causa de um namorado que tive. Um que parecia pesquisador do censo: perguntava tudo... até na hora do sexo ele falava demais: “você está se divertindo?” Ele queria saber “..não, Afonso”, o nome dele era Afonso, você está gozando?, perguntava. Eu dizia, “não, Afonso, eu estou levando a sério!”
(Tempo. Agora embevecida.)

Já o Pedro não... o Pedro é.... diferente. Hoje eu fiz uma loucura: estourei o cartão de crédito mas comprei todos os livros do Freud: quando ele tiver a fim de conversar, assim que me der chance, eu entro com aquele negócio de ID, de Ego, Complexo de Édipo, Superego.... é só ele me dar oportunidade de abrir a boca eu tome Freud! Vai ser lindo...

(Tempo.)
... Um dia eu vi um filme, se chamava “amor”... tinha um cientista explicando (toma ares professorais:) os responsáveis pelos sentimentos são as glândulas e as terminações nervosas. Quando uma pessoa pensa que está apaixonada o que acontece é que está produzindo uma grande quantidade de dopamina, noraprimifina, enfetamina, trigocemina e etc e etc, tudo produzido no sistema límbico, uma parte primitiva do cérebro – tudo euforia, nada mais. Ou seja, a paixão, meus senhores, não passa de uma anomalia, não é nada mais que um completo desequilíbrio orgânico!
(Tempo.)

Mas que é lindo é. Tem coisa melhor do que beijo? Beijar na boca é bom, né? É a parte que eu mais gosto. São três milhões de bactérias que a gente pode pegar com um único beijo... visto assim até que é meio nojento... mas que é bom é. A velha história: tudo que a gente gosta é ilegal é imoral ou engorda. Meu beijo preferido é aquele tio Tapete Vermelho: aquele onde você abre a boca e a língua do cara (gesto:) vem se desenrolando se desenrolando pra dentro da boca da gente... igual ao tapete vermelho da cerimônia do Oscar... depois vem aquele amasso bom... os seios da gente ficam até desnivelados... a ponto de nem o doutor Pitanguy dar jeito!

(Tempo.)

Ele me disse que andava tão duro que na casa dele não tinha sequer televisão...
Eu perguntei: e sofá, tem?
Ele disse que sim.
Ah, então está bom! Na verdade eu queria perguntar se ele tinha cama. (Tempo)

Não tem como não ficar um pouco nervosa no primeiro encontro! Mas uma coisa eu aconselho: o bom a fazer é dar logo no primeiro encontro e fazer de tudo, sem recalques, porque se tem duas coisas de que homem gosta: uma é futebol, a outra sacanagem. Assim o cara já fica sabendo o que vai perder se botar o pé fora.

Ele não perde por esperar!

(Ouve-se Over The Rainbow. Escuridão.)















Cena V (CASAIS)

Ao fundo, o céu do inicio do espetáculo. Do teto desce um globo espelhado de discoteca. Os três personagens (Homem, Mulher e Moça) estão de volta, com a roupa do início da peça. Durante a cena, os três se revezam, entrando e saindo do palco, trazendo objetos como garrafa de vinho, taças, etc, de acordo com a fala. O texto pode ser gravado e apresentado em off, a critério do diretor, cabendo aos atores a tarefa de expressá-lo através de mímica. Como fundo musical: música eletrônica, agitada, frenética e, ao final, bateria de escola de samba.

MULHER: Acordamos às sete da manhã e vamos arrumando a cama, estendendo os lençóis, ajeitando a colcha.
MOÇA: Tomamos banho em silêncio, estamos ainda sonolentos, não queremos conversar.
HOMEM: É uma boa hora para fazermos amor, mas não temos ânimo. Coamos o café, esquentamos o leite, comemos pão com manteiga, lemos as manchetes do jornal. Lemos as manchetes e deixamos o jornal de lado com o firme propósito de continuar à noite.
MOÇA: Sabemos que não vamos ler depois, mas mantemos viva essa ilusão.
MULHER: (Abrindo uma sombrinha) Se chove, falamos que está chovendo e o trânsito está uma merda e é impossível viver nesta cidade.
HOMEM: (Pondo óculos escuros) Se faz sol, reclamamos do calor, da sede, da luz que quase nos cega. Sempre fazemos comentários sobre o tempo. Conversamos futilidades.
MOÇA: Nada temos a dizer, mas não podemos viver calados.
MULHER: Quando encontramos alguém, fazemos festa, recordamos os bons tempos, sentimos algo agradável que não sabemos ao certo definir.
HOMEM: Nem sempre somos sinceros nessas ocasiões.
MOÇA: Desenrolamos o fio de Ariadne. Enrolamos o fio novamente no novelo.
HOMEM: Quando alguém faz um gol, gritamos gol. Não ficamos nem tristes nem alegres.
MULHER: Vivemos numa zona de sombras. Não queremos morrer, não queremos viver.
HOMEM: E trabalhamos, trabalhamos, trabalhamos. Ao meio-dia nos liberam para o almoço e devemos retornar às duas. Engolimos a comida, temos pressa.
MOÇA: saímos para fazer compras, folhear revistas, ir ao banco, dispomos de meia hora para tudo isso e a fila do banco não anda.
HOMEM: ainda existe banco. Então comentamos as tragédias do dia anterior, a última novidade da informática, o pronunciamento do senhor presidente da República. Procuramos estar atentos às inovações.
MULHER: sabemos que quem não se atualiza, corre o risco de morrer em vida.
MOÇA: deu no Fantástico.
MULHER: deu na Caras.
HOMEM: deu na Veja.
MULHER: está em todas as revistas.
HOMEM: não podemos ignorar o que todos sabem.
HOMEM, MULHER E MOÇA (uníssono): Nossas vozes se confundem.
HOMEM: temos a nítida impressão de que nossas palavras não são nossas.
MULHER: durante anos vivemos perdendo a memória. No entanto esse fato não nos prejudicou. Ao contrário, a amnésia nos protegeu das culpas e do arrependimento.
MOÇA: é certo que levou também nossas melhores lembranças. Mas o que é que se pode fazer com lembranças?
HOMEM: à noite, quando o céu é mais misterioso, quando a vida revela seus segredos, nos acomodamos em silêncio diante da televisão. Preferimos Faustão às estrelas.
MULHER: é um bom sinal de que a Civilização está no fim: preferimos Faustão a olhar às estrelas do céu.
MULHER: em geral não assistimos aos programas. Ligamos apenas porque não suportamos a solidão.
MOÇA: temos receio de conversar novos assuntos. Nunca vamos além do permitido.
HOMEM: por vezes, um de nós solta um peido.
MULHER: sorrimos. É uma senha, afinal, estamos vivos.
MOÇA: no frio, nos envolvemos com mantas e ficamos a descobrir uma ou outra estrela latejando entre a névoa.
HOMEM: é um belo espetáculo, mas nos cansamos dos belos espetáculos.
MOÇA: a verdade é que nos cansamos de tudo.
MULHER: em noites de ventanias, padecemos de insônias.
HOMEM: nos abraçamos.
MULHER: não propriamente pela afeição que sentimos.
MOÇA: mas pelo costume.
HOMEM: tossimos. Ofegamos. Mudamos de posição. Fazemos barulho entre os lençóis.
MULHER: precisamos comunicar um ao outro que ainda não dormimos.
MOÇA: o sono tarda.
HOMEM: os sonhos são fardos. Não somos capazes de contar carneirinhos.
MULHER: já não sabemos fazer contas. Há milhões de coisas a fazer.
MOÇA: despertamos.
HOMEM: mil opções de programas. Mil alternativas e nenhuma é a mesma coisa. A cidade tem cento e cinquenta salas de cinema, noventa teatros, oitocentos restaurantes, zoológicos, museus, casas noturnas, saunas, clubes, sex shops.
MULHER: mas não precisamos ir a nenhum deles.
MOÇA: o mundo vem até nos de qualquer maneira.
HOMEM (medo): não podemos escapar. Nos habituamos à guerra e à paz.
MULHER: temos de reformar a casa, trocar os móveis, comprar outro carro...
MOÇA: depois, temos de reformar a casa, trocar os móveis, comprar outro carro...
MULHER: se queremos ser diferentes, temos de ser iguais: ter uma casa igual aquele casal da revista Quem, um sofá igual ao casal de Caras. Queremos o Feng Shue já e uma parede toda vermelha, como manda o Feng Shue.
HOMEM: e somos engraçados, apesar de tudo. Cozinhar, beber vinho, tomar chuva, muitas coisas nos divertem.
MOÇA: rimos!
MULHER: rimos por ter dores tão simples.
MOÇA: e conforme rimos, vamos chorando. Odiamos a falsa loura que mexe a bunda na televisão, mas o dinheiro dela nos viria a calhar.
HOMEM: somos extraordinariamente fortes.
MULHER: somos escandalosamente frágeis.
MOÇA: somos líricos demais.
HOMEM: não lemos, e quando lemos escolhemos nossos livros na lista dos mais vendidos.
MULHER: gostamos de dizer que não lemos mais porque livro é caro.
HOMEM: mas não achamos caros o ingresso para ver o futebol. Nos estapeamos para pegar um ingresso a 50 reais para um clássico no futebol!
MOÇA: damos repostas politicamente corretas.
HOMEM: somos pobres demais, talvez nunca possamos esquiar em Aspen, onde a revista Caras nos mandam ir...
MULHER(entrando com balões): Quando um conhecido faz aniversário, cantamos parabéns pra você.
MOÇA: somos amados e odiados.
HOMEM: enganamos.
MULHER: somos enganados.
HOMEM: discutimos, rompemos relações.
MOÇA: fazemos as pazes.
HOMEM: temos vergonha de nossa nudez, nossa barriga, nossa calvície, nossas roupas.
MULHER: quando estamos em casa, queremos ir a outro lugar.
MOÇA: quando estamos em outro lugar, queremos voltar para casa.
HOMEM: gostamos de viajar, mas nossas viagens se restringem aos preparativos.
MULHER: sim, os preparativos são idílicos: contamos para as amigas, passamos noites inteiras arrumando as malas, tentando colocar o xampu numa embalagem menor mas vazia só achamos uma embalagem de colírio...
HOMEM: no momento em que entramos no carro e pegamos a estrada, ou nos metemos em aviões, a viagem termina. Os problemas vão chegando um a um. E nos seguem.
MULHER: as incertezas nos desesperam. Não sabemos mais em que acreditar: na psicanálise, nas seitas orientais, na terceira onda, no fim iminente por uma guerra nuclear, nas profecias de Nostradamus, na nova Igreja Católica.
MOÇA: matamos Deus.
HOMEM: ressucitamos Deus.
MOÇA: matamos Deus novamente.
HOMEM: voltamos a ressuscitá-Lo.
MULHER: e, a todo momento, nos injetam novos dados, mais informações. Não nos lembramos mais quem foi Hitler.
MOÇA: por um momento galgamos a fama. Damos entrevista aos jornais. Somos convidados a escrever um livro, gravar um disco. Em todas as esquinas falam de nós. Passamos a ser ídolos de uma geração.
HOMEM: uma geração de horas. E depois somos esquecidos para sempre.
MULHER: esquecidos da mesma maneira que esquecemos do preço do arroz, a dor da semana passada.
MOÇA: vamos vivendo, vamos morrendo. Temos sempre desculpas prontas para a mesma ocasião.
MULHER: as revistas femininas só falam em sexo anal.
MOÇA: mas temos medo do sexo anal.
HOMEM: tentamos o sexo anal.
MULHER e MOÇA (uníssono): nos estrepamos!
HOMEM: pedimos socorro por olhares, mas quase todos estão cegos.
MOÇA: somos vítimas inocentes.
MULHER: nas ruas, encontramos conhecidos. Pessoas que passam todos os dias pelos mesmos lugares onde passamos.
HOMEM: nunca nos cumprimentamos. Nunca trocamos uma palavra.
MOÇA: mas mantemos uma cumplicidade.
HOMEM: e nos sentimos abandonados quando um desses conhecidos desaparece por um dia. São nossa segurança.
MULHER: conhecemos muito bem a cidade.
HOMEM: sentamos no carro, fechamos os olhos, e vamos dirigindo.
MOÇA: conhecemos de cor o tempo de duração dos sinais verdes.
HOMEM: todos os movimentos do trânsito.
MOÇA: todas as avenidas que mudaram de direção.
HOMEM: achamos que dirigimos muito bem.
MULHER: batemos o carro!
MOÇA: mas a culpa é do outro.
HOMEM: dizemos mulher no trânsito é foda.
MOÇA: a culpa sempre é do outro.
MULHER: fatiga-nos a mesmice dessas mudanças.
HOMEM: nossas mães dizem que não temos o sucesso daquele primo, daquela prima, daquele vizinho que a gente quer ver morto porque o carro dele é muito melhor do que o nosso.
O TRIO (uníssono): nossas mães são foda mesmo.
HOMEM: engordamos. Ficamos com vergonha de tirar a camisa. Se vamos à praia, não nadamos mais, apenas passeamos pelo calçadão e tomamos água de coco.
MULHER: segunda-feira começaremos a dieta.
HOMEM: segunda-feira começaremos a correr no parque.
MOÇA: segunda-feira começaremos a parar de fumar.
HOMEM: segunda-feira, quanto mais no futuro, melhor.
MULHER: aliás, temos medo do futuro.
MOÇA: então vamos à cartomante.
MULHER: e a cartomante nos diz um monte de coisas boas: vamos arranjar marido rico e viajar para Paris.
MOÇA: a cartomante nos arranca 100 paus!
MULHER: mas ficamos felizes.
MULHER: fazemos pergunta. Respondemos. Verdade ou mentira, não importa.
HOMEM: quando chega a primavera, dizemos é primavera.
MOÇA: e vamos ao museu.
MULHER: não entendemos muito de arte moderna. Nem a pós-moderna.
HOMEM: fiamo-nos na opinião dos críticos.
MOÇA: divergimos da opinião dos críticos.
MULHER: cagamos para a opinião críticos.
HOMEM: um cara mijou num pedaço de estopa, pendurou numa parede branca e disse que aquilo era arte.
MOÇA: depois vendeu por oito mil.
HOMEM: dólares!
MULHER: O coração dói...
HOMEM: A gente não sabe se é infarto ou solidão...
MOÇA: Pois o coração é um orgão irresponsável...

(Tempo. Escuridão brusca e absoluta.)

HOMEM: apontamos a arma para a têmpora.
MULHER: atenção: apontamos a arma para a têmpora.
HOMEM: mas não atiramos. Não somos covardes.
MULHER: ainda nos resta um fio de coragem.
MOÇA: cruzamos largos corredores, diversas crises: a crise dos 15, a crise dos 30, a crise dos 40, a crise dos 50.
HOMEM: temos mestrado, doutorado e pós-doutorado em crises.
MULHER: mas sempre sobrevivemos.
MOÇA: por isso, no final das contas, nos abraçamos.
HOMEM: mas não chegamos muito perto, abraçamos pela metade.
MULHER: vez por outra nos beijamos.
MOÇA: quase não sabemos mais beijar.
HOMEM: desaprendemos muitas lições.
MOÇA: não temos tempo para os irmãos, não temos tempo para nada.
MULHER: desajeitados, constrangidos, preferimos o escuro, fazemos amor no escuro.

(Tempo. A luz volta. Os três atores estão abraçados, num só bloco. A dramatização prossegue, dessa vez, com um toque de alegria.)

HOMEM: aos domingo, comemos macorronada com frango, é o melhor dia da semana.
MULHER: comemos, bebemos e dormimos.
HOMEM: Se vamos ao teatro, não é para ver a peça e sim aos atores da Globo.
MOÇA: para contar no trabalho na segunda-feira, olha vi a peça da Fernanda Montenegro.
HOMEM: vi a peça da gostosona da Juliana Paes.
MULHER: Via a peça do Antônio Fagundes!
MULHER: nunca sabemos quem escreveu o texto, o nome do autor do espetáculo.
HOMEM: somos fúteis.
MOÇA (bastante animada): em certas ocasiões, somos invadidos por uma súbita felicidade. Então cantamos.

(A música fica mais frenética.)

HOMEM (com a mesma animação): desafinados, mas cantamos!
MULHER: (com confete e serpentina:) a felicidade dura pouco, deve ser o vinho, de qualquer forma, cantamos.
MOÇA: chegamos a ponto de bailar!
MULHER: dançamos pela sala, já não temos a mesma agilidade para a dança, então ficamos mexendo as mãos!
HOMEM: nossas músicas saíram de moda, esquecemos aqueles passo, mas bailamos!
MOÇA: sambamos!

(Os três sambam, de modo desengonçado durante algum tempo. Corte brusco. Tempo. Silêncio. Imobilidade. A luz teatral desaparece. Sob uma luz morna, os três personagens se aproximam da boca de cena: não mais personagens, são apenas atores que dizem o texto, agora, necessariamente ao vivo, de modo direto, simples, olhando na cara do público.)

(Soa o violoncelo solo.)

MULHER: em breve, teremos um filho.
MOÇA: e ensinaremos a ele tudo o que sabemos.

(Tempo. Toca o tema do espetáculo: 1 minuto. Os três fecham os olhos, como se diante de uma refeição.)

HOMEM: Apesar de tudo, obrigado, Senhor, porque na vida existe amor...
MOÇA: salmão...
MULHER: ... e vinho tinto.

Pano.

Isa Fernandes e Pascoal Filizola em cena de O DOCE BLUES DA SALAMANDRA



No belíssimo teatro de Santa Isabel em 13/02/2003.

O DOCE BLUES DA SALAMANDRA
(Editora MXM, PE, Novembro de 2002)
Texto teatral vencedor do Prêmio Cidade do Recife 2000, concorrendo com 96 obras de todo o país. No texto: Callas, Clarice Lispector, Camille Claudel e os limites da paixão, da arte, e da loucura. Na trilha sonora (indicada ao prêmio Joaquim Cardoso): Billie Holiday, Nina Somone e Astor Piazzola.



Veja Fotos do espetáculo.

QUEM VAI AJUDAR O LOBO MAU?
Uma manhã, no bosque, o Lobo Mau acordou
com uma terrível dor de dente; precisava de ajuda,
daí se lembrou que não havia feito um só amigo, a vida toda.
e para piorar, era dia de Natal. E agora?
(Editora Lê, MG, jan 2005)
Infantil. Aquarelas do autor.
PARA QUE SERVE UM AMIGO?
(Ed. Beca, SP, 2002)
Amigo é melhor que sorvete de chocolate:
Com a vantagem de não derreter, não
engordar e não custar nada. Como em
o Pequeno Príncipe, de Exupery, o
livro agrada aos leitores dos 8 aos 80
e é uma ode à amizade. Infanto-juvenil
Adotado pelo governo do Estado de São Paulo.
Prêmio Adolfo Aizen/UBE 2000
(Menção Honrosa)